segunda-feira, junho 30

Qual o valor de um sorriso?

sexta-feira, junho 20

Às aves que migram...

Quando criança, me indagava acerca das coisas do mundo, perguntas ingênuas, mas que mostravam a avidez por conhecer, saber, entender. Perguntas provavelmente comuns a todas as crianças: "será que na minha vida toda ganharei/gastarei R$ 1 milhão?", "por que o céu é azul?", "pra que estudar português?", etc. À época, pensava que os adultos, sim, é que eram felizes, imaginava que eles nunca se indagavam sobre essas coisas, ou coisa qualquer, pois deviam tudo saber.
Curiosamente, eu tinha fixação pela idade de 25 anos. Não sei explicar (eis uma pergunta que nunca me fiz, tampouco!). Imaginava essa ser a idade perfeita, para alguma coisa que não sabia. Poderia dizer aqui que algo fantástico aconteceu, alguma epifania, uma revelação depois de março de 2007, quando fiz 25 anos - sinto desapontá-los -, mas nada disso aconteceu... Acredito que somos uma pessoa diferente a cada dia, mas no fundo ainda sou aquela criança perguntadora, lá de fins da década de 80.

Vasculhando meus arquivos no computador, encontrei um poema do Bryant (cujo poema Thanatopsis, escrito aos 17 anos, é considerado uma obra-prima da literatura estadunidense), do qual gosto muito, e que tive o prazer de traduzir anos atrás e reproduzo abaixo (o original, em inglês, pode ser visto aqui).

Àquela que migra
de William Cullen Bryant

Para onde, em meio ao orvalho,
Enquanto reluzem os céus com os últimos raios de dia,
Longe, através da tonalidade rósea, tu segues
Teu caminho solitário?

Em vão os olhos do caçador
Poderiam mirar teu vôo distante para fazer-te mal,
Enquanto, sombriamente vista contra o enrubescido céu,
Tua figura parece vagar.

Procurastes a margem pantanosa
Do delgado lago, ou a do amplo rio,
Ou onde as ondas agitadas sobem e descem
Na puída orla do mar?

Há uma Força cujo esmero
Ensina teu caminho ao longo da costa sem trilhas –
O deserto e infinito ar –
Solitário errante, mas não perdido

O dia todo tuas asas bateram,
Nas alturas, na fria e tênue atmosfera,
Mesmo não pousando, exausta, na terra que a receberá
Embora a noite escura esteja perto.

E logo a labuta terminará;
Logo tu encontrarás um pouso estival, e repousará,
E soltará a voz entre tua parelha; o junco deverá curvar-se,
Logo, sobre teu ninho protegido.

Tu terás ido, o abismo impenetrável
Terá absorvido tua forma; ainda assim, em meu coração,
Profundamente terá sido fincada tua lição,
Que não deve tão cedo partir.

Ele que, de lugar a lugar,
Guia através do ilimitado céu teu vôo certeiro,
Pelo longo caminho que devo trilhar sozinho,
Há de guiar meus passos sem erro.


Bryant fala basicamente da vida e de como percorremos os caminhos que nos levam, inexoravelmente, a um fim. Não um fim qualquer, mas um fim que nos permite transcender, pois nossa lição fica. E como alcançar esse objetivo final (que também acaba sendo o projeto existencialista), sempre haverá obstáculos (um caçador) à frente... Nessa linha, pego-me constantemente pensando em duas forças: a moral e a ética. São duas coisas diferentes: a moral lida com a igualdade das minhas relações em relação às outras pessoas (não fazer a outrem aquilo que não quer que façam a você). Já a ética diz que eu devo ser responsável comigo mesmo, além de fiel aos meus desejos. Para mim, são duas forças conflitantes, uma impulsionando em direção à realização dos meus desejos e outra os refreando.

Não é fácil ser criança, nem adulto. Talvez a grande transformação dos 25 anos seja exatamente essa: estar nel mezzo del camin di nostra vita (no meio do caminho de nossa vida), como Dante colocou, seguido por Olavo Bilac:

(...) Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

(...)

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.


A sensação é bem essa retratada pelo poema do Bilac; parece que os 25 anos marcaram o estar no meio do caminho entre o ontem e o amanhã, sem ser o hoje...

terça-feira, junho 10

Quem sou?

O texto da Dulce (Condutas de risco) me fez pensar um pouco sobre a questão dos simulacros e das simulações, como apresentada por Jean Baudrillard. Os simulacros visam enganar, fazer com que o falso se passe por verdadeiro. As simulações, contudo, não têm o intuito de ser representações falsas nem verdadeiras, mas apenas reproduzir o real.

Focando não necessariamente no texto dela, mas da idéia que pode ser extraída dele, talvez seja possível entender a atuação de Clayton como um jogo de simulações e de simulacros. Sua atuação profissional usa dos simulacros para atingir um fim: ganhar casos judiciais, ludibriar, etc. Quanto aos simulacros, sabemos ser possível tomar o falso pelo verdadeiro e vice-versa; no entanto, a simulação, por não pretender-se nem verdadeira nem falsa, nos deixa num estado constante de incerteza.

Partindo dessa idéia, podemos ver a pergunta "então, quem é você?" como a incerteza sobre a própria existência do protagonista. Afinal, ele é um indivíduo com seus princípios, certezas, medos, paixões, etc., ou uma simulação de alguém que acredita ser? Somos, nós, simulações das pessoas que imaginamos ser?

Diferentemente do filme, nossas vidas (agora insistindo numa definição existencialista) não são predeterminadas, nem sabemos de antemão quem somos, a existência precede a essência. Somos frutos de nossas experiências, ou condutas, se preferir. Acredito que, em certa medida, todos seguimos mais ou menos os passos da jornada do herói, sempre nos aproximamos da caverna oculta, mas nunca chegamos a adentrá-la... talvez nossa jornada seja, na verdade, a combinação de pequenas viagens, que no fim podem ser postas todas num livro, para que algum dia alguém possa indagar: "então, quem é você?". Não estaremos mais aqui para responder, mas só então teremos a resposta. Um contra-senso, aparentemente.

domingo, junho 8

E vale a pena?

Portuguese Sea - by Fernando Pessoa

Oh salt-laden sea, how much of your salt
are tears of Portugal!
So that we crossed you, how many mothers wept,
how many children vainly prayed!
How many brides still to marry
so that you would be ours, oh sea!

Was it worth it? Everything is worth it
when the soul is not skimpy.
Who wants to go beyond the Bojador
must surpass the pain.
God the sea perils and the abyss gave,
but in it He reflected the Heavens.

(Tradução minha)

Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

quarta-feira, junho 4

Quanto vale uma imagem?


(Foto minha, jan/2008 - Paranapiacaba, SP)