domingo, novembro 30

We are such stuff as dreams are made on.


Somos da mesma substância que os sonhos, diz Shakespeare n'A Tempestade. Na peça, ele se pergunta o que é o homem, qual a diferença entre realidade e ilusão; deixa-nos com todas essas indagações, contudo saímos do teatro com algum conforto, seja inebriados com a certeza de que podemos ser tudo aquilo que nossos sonhos nos permitirem, ou mesmo aliviados pelo fato de nem Shakespeare saber respondê-las.
Seja como for, a experiência de assistir a Shakespeare com cenário moderno e personagens imaginários choca, num primeiro momento, que pode ter-me levado a criticar a escolha do diretor, que, no entanto, revelou-se acertada depois de uma noite no mundo etéreo, mesmo que tenhamos a impressão que os atores se perdem durante a transição "ao vivo" entre personagens... realidade ou ilusão, perdem-se realmente ou não?
Será que o fato de sermos da mesma substância que os sonhos nos torna etéreos? Acredito que sim ao passo que somos potencialidade, e temos planos de vir a ser. Como lidamos com essas potencialidades e planos cabe a cada um de nós, a nossa ética e afetos. Temos a desculpa de ser medíocres em diversos aspectos de nossa vida, mas é imperdoável que sejamos medíocres para conosco, que nos permitamos sonhar e desejar coisas pequenas.

Um provérbio chinês (que deve ser milenar, pois tudo que vem de lá é milenar...) diz que o medíocre discute pessoas, o comum discute fatos, e o sábio discute idéias.

Nossos sonhos devem transcender nossa própria existência, medíocre por natureza, pois limitada, e nos alçar aos patamares mais elevados. A diferença entre sonho e ilusão é mera definição dicionarística. A tempestade nos força a deixar o sono e acordar para a realidade, que, talvez por não ser tão bonita quanto gostaríamos, é denegada. O senhor da vida somos nós mesmos... ou você está aí sentado esperando que o Diretor venha lhe dizer o que fazer? Acorde!