segunda-feira, novembro 9

500 dias com ela


Este fim de semana assisti ao filme 500 dias com ela [(500) days of Summer]. Inteligente, com ritmo legal, adorável. Trata-se de uma história de garoto-conhece-garota, o garoto fica apaixonado, e a garota nem tanto. O garoto sofre, a garota segue em frente.

Talvez a inovação do filme resida exatamente em apresentar a história de modo não-linear; os saltos temporais mostram os diversos estágios do relacionamento dos protagonistas, como acontece na vida real. Ao lembrarmos de um ex-relacionamento, ou de acontecimentos passados, é comum embaralhamos a ordem das coisas. Além disso, algo que me chamou muito a atenção foi o nome das garotas: Summer e Autumn.

Teria sido o relacionamento com Summer (verão, em inglês) bastante intenso, com temperaturas elevadas, com os dias longos, assim como a estação do ano? No final da história, chega Autumn (outono, em inglês), que talvez represente não só um novo relacionamento potencial, mas a mudança de comportamento frente aos relacionamentos. O filme termina neste ponto, então, só nos resta especular se o relacionamento que viria a se desenvolver com Autumn também estaria relacionado às qualidades da estação do ano... o outono é comumente associado, em literatura, à melancolia, ao passo que o verão é dinâmico. Não sabemos.


No fim das contas, o filme retrata bem como são os relacionamentos modernos, sem fazer julgamentos de quem está certo ou errado, sem preestabelecer quem fere e quem é ferido; afinal, para que aconteça, ambos os envolvidos concordam e aceitam os riscos de se envolverem e se entregarem, então não faz sentido pensar em Summer como a vilã que machuca Tom, como muitos de nós, às vezes, somos tentados a pensar. Relacionamentos são feitos de responsabilidade pelo outro, como disse a raposa ao Pequeno Príncipe, sim, mas só até o ponto em que também temos de ser responsáveis pelos nossos próprios sentimentos.

Foto: Parc de la Villette, Paris, nov. 2009, (c) Thiago H. Nascimento

sexta-feira, setembro 4

Wanderlust


Apesar de ser cético em relação a assuntos de destino, recentemente tenho sido surpreendido por acontecimentos que parecem ir ao encontro das minhas expectativas. Um exemplo: esta semana, no trabalho, traduzindo um manual técnico me deparei com uma palavra - da qual nem me recordo agora - desconhecida; pesquisando-a no dicionário, por alguma razão me apareceu outra palavra, a que dá título a este texto - Wanderlust, um termo alemão que pode ser entendido como, em linhas gerais, o desejo de viajar, a simples necessidade de ir a qualquer lugar, em busca do desconhecido. Mas não apenas isso, a sensação vai além, é também física, as pernas têm necessidade de caminhar, em direção a algo novo, que é, no final, o objeto do desejo.
Talvez isso tenha se intensificado pelo fato de minhas férias estarem pertinho; menos de 27 dias...
Na linha do wanderlust, alguns filmes despertam o desejo mais puro de ir (e isso nada tem a ver com o comercial do cartão Visa): Vicky Cristina Barcelona; Encontros e desencontros; Amélie...
Sem dúvida alguma, para mim, um filme que provoca a vontade de vivenciar um lugar é Paris, je t'aime. Há uma cena, em que Carol, uma funcionária dos correios americanos, passeando na cidade sozinha, senta-se em um banco num parque e diz:

"Sentada lá, sozinha, num país estrangeiro, longe do meu trabalho e de tudo que eu conhecia, uma sensação tomou conta de mim. Era como se lembrar de algo que eu nunca soubera ou algo por que sempre esperei, mas não sabia o que. Talvez fosse algo que eu esquecera ou que deixara escapar por toda a minha vida. Só o que posso dizer é que me senti, ao mesmo tempo, triste e feliz. Mas não muito triste, porque me sentia viva. Sim, viva. Foi naquele momento em que eu me apaixonei por Paris, e percebi que Paris tinha se apaixonado por mim."


Acredito que todos podemos vivenciar lugares e pessoas, e isso faz bem, muito mais do que ser apenas passadores de tempo, transeuntes das ruas e das vidas das pessoas. Wanderlust nos impulsiona a ir, mas os laços nos trazem de volta. Os portugueses viajaram o mundo nas Grandes Navegações, e até mesmo cunharam a saudade para lembrá-los de que suas casas os esperavam.

O que te impulsiona e o que te chama de volta?

domingo, julho 12

A hora do verão

O cinema francês sempre instiga a reflexão, parece recusar-se a entregar a trama pronta, a esmiuçar a narrativa. Os espectadores devem, então, se esforçar para dar significado ao que lhes é mostrado e encontrar dentro de si o que está oculto. Para mim, ver um filme francês sempre é a descoberta dos desejos que eu cismo em esquecer que existem. O filme L'Heure d'Été (Horas de Verão) é um drama que mostra o processo de partilha da herança e das memórias do pintor Paul Berthier, deixadas pela mãe de três filhos, cada um com suas trajetórias de vida, e de como cada um deles atribui valor sentimental e econômico aos bens partilhados. O filme vai além, mostra que, não obstante esses bens terem valor artístico-econômico, fazem parte da história de vida e são parte dos três filhos. Apesar disso, cada um deles dá valor e importância diversos aos objetos e às memórias propriamente. No fim das contas, o que levamos são as lembranças e não o valor econômico dos bens que herdamos. Uma obra de arte só tem valor quando num contexto e nas mãos da entidade certa - assim como nossas memórias, bens são feitos de história e o valor dado a eles vai além do material com o qual são produzidos. Nossas memórias valem à medida em que as sentimos e vivenciamos.
Para mim, o título do filme - L'Heure d'Été, a hora do verão - já indica que o filme fala de um episódio transitório na vida dos protagonistas. O verão tem hora para começar e acabar, assim como a vida, assim como tudo. Então, a mensagem do filme é a efemeridade do material E das relações humanas; no final, levamos somente o que vivenciamos de fato, objetos serão sempre objetos, que quando são postos para fora do contexto original não têm significado, e a ninguém dizem respeito, exceto como curiosidades.
Alguns objetos do espólio acabam sendo vendidos ao Museu D'Orsay, onde turistas olham para uma escrivaninha, uma poltrona, para vasos que, despojados de seus contextos, são apenas objetos, perdem sua essência. O olhar do filho para os objetos expostos é melancólico, a saudade patente, e a certeza de que parte de sua história foi posta em cárcere é expelida de seus olhos de modo significante.
Do mesmo modo, escrever no blog faz todo o sentido para mim, num dado contexto; para quem lê, alheio à experiência que desencadeia a idéia, talvez pouco importe, talvez seja nada mais que um móvel incômodo sobre o qual nada se sabe e com o qual nada pode ser feito...

segunda-feira, junho 15

E lá fui eu para Salvador

sexta-feira, 12 de junho, 2009, 00:35
Thiago fala: Carlos, você tem milhas?
Carlos fala: Tenho sim.
Thiago fala: Rola me dar umas pra Salvador?
Carlos fala: Claro.

Bem, foi mais ou menos assim que começou a viagem. Sim, fugi de São Paulo, na sexta-feira mesmo. Às 7:35 eu deixava Cumbica com destino a Salvador, na Bahia. Foi uma viagem dessas de último minuto, passagens compradas, ida pela Gol – que agora cobra o lanchinho (só deram amendoim e refrigerante para quem não pagou), e volta pela TAM - com direito a lanchinho sem pagar. Duas horas mais tarde eu desembarcava no aeroporto “internacional” de Salvador - bem arrumadinho e limpo –, num calor úmido e sufocante. Já na saída encontramos as baianas do acarajé, da cocada, da água de coco…
A cidade histórica é bonitinha – se fosse mais bem conservada, mais limpa, cheirinho melhor e mais segura... -, mas as praias são ótimas, apesar do assédio constante dos vendedores ambulantes.
Como comentei no post anterior, viagens sempre causam transformações e reflexões, e esta foi especial neste sentido. Numa cidade em que a maior parte da população é negra, eu, branco, muitas vezes era confundido com gringo e abordado sem descanso pelos vendedores – chega a ser irritante, mas deve fazer parte da viagem à Bahia. O povo, sem comentários, é muito paciente e afetuoso, de verdade. Acredito que seja bom sentir-se o estrangeiro, o diferente, às vezes. Esses tipos de situação nos colocam no papel do outro e sentimos na pele o que é ser observado, quando se é a minoria. Vale a pena como um lembrete de que somos todos iguais, ou deveríamos ser.
O tempo é algo curioso, lá passa MUITO devagar. Fiquei somente dois dias e meio, que pareceram uma semana.
Andei muito pelas ruas, ladeiras, becos históricos, a arquitetura – nos tempos prósperos, a cidade deve ter sido impressionante, mas ainda causa espanto: igrejas revestidas de ouro, fachadas detalhadamente entalhadas, cada pedra posta a compor quase que um mosaico nas ruas – e bem difíceis de andar, diga-se de passagem.
Comi pela primeira vez um acarajé, com (quase) tudo que tinha direito – não curto muito frutos do mar -, até que é bom! Comidas das quais nem lembro ou consigo pronunciar o nome, mas todas muito bem temperadas, com bastante dendê.
Visitei um café simpático, incrustado num paredão de casas, perto do plano inclinado – uma vista única da baía, e um chá mate bem gelado com limão, que refrescou a alma!
Sábado foi o melhor dia, conheci o MAM, Museu de Arte Moderna, devidamente modelado pela Lina Bo Bardi – a arquitetO, por favor -, com direito a show de jazz num lugar quase paradisíaco, à noite, além do deck do restaurante, um charme. Quem tiver a oportunidade de visitar a cidade, tire um dia todo para a área do Museu, desça pelo Lacerda, o elevador, no caminho passe pelo Mercado Modelo, e ande até lá. Só cuidado com as ciganas que tentarão a todo custo ler sua "sorte".
Não querendo imprimir um tom civilizatório - como alguns podem pensar -, a Copa do Mundo será o desafio da cidade (e de todo o Brazil, acredito). Há muito o que ser feito em Salvador nos próximos anos, e isso inclui sistema público de transportes mais eficiente, limpeza urbana… quanto aos serviços, apesar de eu ser mais um paulistano apressado, a calma com que nos servem e lidam com todos faz bem, e você acaba entrando no ritmo, e seu dia se alonga em horas que em São Paulo passariam voando.
Cheguei em São às 18h, e desci na estação de metro Consolação, que ainda estava tomada pelos alegres festeiros da Parada. De certo modo, queria estar no sossego e silêncio de Salvador... mas passou, rapidinho, e fui jantar no Exquisito!

quarta-feira, junho 10

Soltando as amarras…

Só se sabe o que escrever, escrevendo; só se sabe viajar, viajando...

Passado algum tempo sem escrever, talvez por não ter nada digno a ser dito, estou cá esperando o engarrafamento da Berrini - da qual tenho uma vista privilegiada, uns acreditam - e da Nações Unidas diminuir para voltar para casa, numa quarta-feira pré-feriado. Resolvi sentar e escrever sobre qualquer coisa, e é engraçado como as palavras vêm, e como as contradições contribuem para a idéia. Maior engarrafamento do ano, diz o UOL, e eu aqui planejando minhas férias, em outubro - viajar e estagnar. Desejo de mudar e a realidade que permanece.

Decidi que minha próxima viagem será para a Europa, 20 dias de liberdade da rotina do trabalho, do cotidiano caótico de São Paulo, flanando pelo Velho Mundo... sim, quero ser um flâneur, como dizem os franceses - vagar, sem rumo, experienciando os lugares, pensando na vida, sem compromisso outro que não esse.


Acho que pensar uma viagem talvez seja a parte mais divertida, pois traz expectativas que podem ou não se concretizar – sobre isso Alain de Botton fala em A Arte de Viajar –, porque tudo o que fica no ideal nos é aprazível e seguro. Mas o propósito de uma viagem vai além: segundo Botton, viajar nos faz perceber nosso lugar no mundo, nossa insignificância quando comparados com tudo o que existe de grandioso. Viagens nos permitem tempo para refletir sobre quem somos, quem gostaríamos de ser e como nos relacionamos com o mundo. Viajar parece ser intrinsecamente relacionado com mudar. Para Descartes, viajar é quase como conversar com o que existiu no passado.


Voltando a minha vista privilegiada aqui no escritório: passo o dia todo olhando para a Hípica, o vai-e-vem da Berrini, e os aviões – inúmeros – levantando vôo e pousando no aeroporto de Congonhas. Ver todos esses aviões me faz criar histórias sobre o destino de seus passageiros e provoca mais e mais a vontade de soltar as amarras e navegar o mundo. Mas por que será que temos essa gana de viajar? Navegamos o mundo em busca de algo, mas retornamos para casa para encontrá-lo… e, na verdade, retornamos com a nossa experiência, que será reinterpretada e ressignificada cada vez que lembramos da aventura. Em busca disso, planejo fazer um diário da minha viagem, registrando as impressões sobre a comida, arquitetura, as pessoas, absolutamente tudo que eu conseguir, para mais tarde, de volta ao lar, relê-las – dias, semanas, meses depois – e verificar o que mudou em mim.


Talvez meu desejo em viajar seja, de fato, relacionado à descoberto, à liberdade e ao acaso. Venho aprendendo a me deixar levar pelas coisas – e, isso é muito bom, de verdade!
O acaso me prega belas peças. Caso recente foi com meu laptop: pensei em fazer backup e formatá-lo semana passada, mas as coisas aconteceram sem que eu planejasse, e o dito cujo se autoformatou… para meu alívio, eu diria, pois estava protelando o desgaste de separar todos os arquivos dos últimos 5 anos que havia no HD. O que não se quer remediar, remediado está. Me desapeguei da idéia de ter perdido minhas memórias desses anos, pois elas estão todas guardadas e devidamente vívidas em mim.


Imaginar e escrever é meu modo de escapar, especialmente enquanto o trânsito não flui; especialmente enquanto chove lá fora e São Paulo parece desaparecer, dissolvida na água da chuva.


quarta-feira, abril 15

Por um amor incondicional

Vi ao filme Les Chansons d'Amour (Canções de Amor) algumas vezes, adorável. Cada vez descubro algo lá no fundo que é tocado e aflora, numa explosão de lágrimas incessantes, até o esgotamento.
É curioso como determinadas músicas, situações, livros, sons, cheiros, memórias, comidas... têm a capacidade de despertar sentimentos em nós, que muitas vezes não damos conta que existem.
O filme traz muito disso, mas eu quero comentar uma frase específica, que bate lá no fundo e me faz pensar: no balcão do apartamento, o protagonista diz 'aime-moi moins, mais aime-moi longtemps' (algo como: 'me ame menos, mas por muito tempo').
Essa frase têm implicações muito fortes para mim. Uma delas diz respeito à necessidade de amor incondicional, acima de tudo. Outra o fato de ela mostrar o lado mais pungente dos relacionamentos.

Se, por um lado, o que se busca é o amor incondicional, exige-se que ele nos seja dado em troca de muito pouco. Doar-se ao outro requer muito, e o medo de deixar-se vulnerável é enorme.
Será que é suficiente amar e ser amado pouco, mas por muito tempo? Ou vale mais amar, amar ao extremo, amar muito e com todas as forças, e talvez não ser correspondido na intensidade, nem na duração?
Tanto um quanto o outro são problemáticos, trazem sofrimento. Mas o maior sofrimento é deixar o amor definhar. Há quem diga que amor um dia acaba, atestado inclusive por cientistas, afirmam. Mas o amor acaba mesmo quando somos incapazes de renová-lo no dia-a-dia, por causa de nossas fraquezas, e não de morte natural, porque tem de acabar e ponto.

Exupéry (autor do Pequeno Príncipe) escreveu que amor fosse talvez o processo de levar o outro a se encontrar consigo, e que esse amor devia consistir em não um olhar o outro, mas ambos olharem na mesma direção. Eis algo para se pensar e sentir. Como diz uma das canções do filme os amores passageiros fazem esforços inúteis, suas carícias efêmeras, cansam-nos o corpo...
É preciso serenidade para aceitar, ou ao menos entender, que amor, o de verdade, pode demorar a acontecer, e que acontece poucas vezes em nossa existência - talvez o que nos reste seja o conforto de ter amado, e terminado, como a frase-mote do filme, ou o Soneto do Vinícius, que seja infinito enquanto dure...

terça-feira, março 24

O que a evolução nos ensinou


Estou às vésperas de terminar a leitura de um livro superinteressante, chamado O Colar do Neandertal (Juan Luis Arsuaga); nele, além de muita informação sobre diversos aspectos da vida dos neandertais e dos cro-magnons (os últimos, nossos ancestrais diretos), o autor apresenta dados estatísticos sobre mortalidade infantil para ambas as espécies - que, diga-se, era muito alta. Pois bem, antes do advento da Medicina como a conhecemos (hospitais, postos de saúde, vacinas, terapias diversas, cirurgias, antibióticos, DNA...), a taxa de mortalidade era muito alta; até mesmo no começo do século passado - e em muitos países subdesenvolvidos ainda, especialmente na África - perder uma criança era (é) comum, e visto como um fato da natureza. O que mudou, então?

Parece que nossa sociedade moderna perdeu a habilidade de aceitar a morte. Se outrora nada podia ser feito, exceto calmamente aceitarmos o inevitável, hoje lançamos mão de recursos mil para evitá-la, e quando somos vencidos, nos entregamos de corpo e alma ao lamento e ao desespero... se no passado era comum pensar na morte como algo que fazia parte da vida - haja vista os famosos álbuns de pessoas mortas em cenas do cotidiano, no século XIX (veja) -, hoje só a idéia nos provoca arrepios. Nossa é uma cultura em que a juventude é celebrada, a obsessão por corpos sarados, exercícios para garantir a saúde e a juventude é louvada, como se estivesse a todo custo negando a morte.

O poeta William Cullen Bryant (1794-1878) escreveu diversas obras com a temática "morte" (dizem ter escrito seu poema mais famoso, Thanatopsis, com 16 anos), e com tal maturidade, que serve de resposta a nossa cultura narcisista. Em linhas gerais, o poema nos adverte a aproveitar a vida e os ensinamentos da natureza, a aceitar o inevitável - a morte - e nos conformarmos que, morrendo, retornamos ao pó, e por meio dele fazemos parte de algo maior, da própria natureza.

A visão de Bryant me é agradável, pois o meu conforto vem exatamente da idéia de fazer parte da humanidade por meios físicos e naturais - e por não eu crer numa vida além-morte, nem em qualquer tipo de entidade-lá-em-cima.
Acredito que não devíamos ter tanto medo da morte assim - especialmente os que se dizem crédulos nas religiões que lhes pregam uma outra vida confortada por um Deus (shame on you, religious people). Também torna-se pensamento recorrente, conforme a idade chega (estou com 27 anos), que sempre que usam a inevitabilidade da morte como justificativa para o hedonismo desenfreado, pede-se exatamente o oposto. Devemos, sim, viver nossas vidas intensamente, mas com seriedade e dando valor às coisas duradouras, pois os corpos de 18 anos se acabam, as rugas aparecem, a falta de conteúdo e a superficialidade tornam-se patentes, o que fica são os ensinamentos da vida, da natueza... temos de (tentar) conviver com a morte harmonicamente, pois é parte da vida. Como diz Hamlet (ato V, cena ii), o resto é silêncio.

segunda-feira, março 16

Dos princípios...

Todos temos princípios, certo? Como nos mantermos fiéis a eles e nos relacionarmos com o mundo? Tarefa difícil, que tem diversas implicações, como, por exemplo, quando você, recém-coração partido, conhece pessoas, que o tacham com termos tais como "pessimista", "chato", "metódico". Pronto, não bastasse o sofrimento causado pelo rompimento de um laço afetivo, agora se tornará a chacota do grupo. Mesmo assim, você segue firme, atendo-se a seus princípios. Continua fiel a sua mais íntima decisão de ser um indivíduo coerente - apesar de outrem afirmar ser isso besteira. No fim da história, essas vozes que burburinham incessantes, que bradam ao vento palavras sorridentes talvez não sejam de fato coerentes, nem sequer felizes (e no fim da noite elas se lamentem, cutucando você, como se quisessem ser ouvidas, mas aí você já não esteja tão a fim assim...) Elas gastam mais energia se fazendo-parecer, que sendo de fato algo. Há diversos modos de encarar experiências boas e ruins - cada um tem uma abordagem que lhe faz mais ou menos bem. A minha é seguir firme a meus princípios, sempre buscando a coerência (e isso não quer dizer necessariamente que seja a escolha perfeita, mas uma dentre as possíveis). Outras pessoas preferem (ou sequer se dão conta que fazem) pôr máscaras de "tudo bem" a se debruçar e perguntar intimamente por que agem como fazem. É mais cômodo, certamente, ser superficial - mas o preço lá na frente certamente será mais caro. Prefiro fazer-ser, custe o que me custar.