sábado, julho 5

Tempus edax rerum...

Ovídio, nas Metamorfoses, disse que tempus edax rerum est. O tempo é o devorador das coisas. Mas o que dizer de uma fotografia?

Há algumas semanas visitei o Museu da Língua Portuguesa e assisti novamente ao show no terceiro andar. Para quem ainda não conhece, trata-se de uma apresentação de poemas musicados com a projeção de imagens nas paredes e teto da instalação. Um poema que sempre me chama a atenção é um diálogo de Emília com o Visconde, cujo final, em especial, me fascina:

"...a vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. / A gente nasce, isto é, começa a piscar. / Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. / Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. / É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. / A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. / Um rosário de piscadas. / Cada pisco é um dia. / pisca e mama; / pisca e anda; / pisca e brinca; / pisca e estuda; / pisca e ama; / pisca e cria filhos; / pisca e geme os reumatismos; / por fim, pisca pela última vez e morre. / – E depois que morre – perguntou o Visconde. / – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?"

(Monteiro Lobato em Memórias de Emília de 1936)



Um comentário:

Anônimo disse...

Pisca quem pode piscar, porque piscar é um luxo, uma dádiva. Quem pisca se mostra vivo. Se quem não pisca já morreu, te informo de que estou vivo.