
Pensando em termos atuais, não estamos tão longe de ser Atlas em nosso cotidiano... carregamos o mundo nas costas, metaforicamente, quando não temos mais tempo para as coisas prazerosas da vida, como dormir, comer uma refeição em paz, contemplar o céu, as árvores, sentir o solzinho batendo no rosto num dia frio, ou mesmo quando temos a impressão de que nossos dias estão cada vez mais curtos.
Sobre a dicotomia leveza-peso é que Kundera monta sua narrativa em A insustentável leveza do ser. O autor toma uma perspectiva existencialista, em que a leveza é entendida como a vida descomprometida, e o peso como o comprometimento. Acredito que a leveza, a frivolidade, a superficialidade com a qual nos relacionamos com o mundo e com as pessoas destitui nossas vidas de sentido. O contrário é verdadeiiro também: nosso comprometimento com o mundo e com os afetos nos dá os motivos para viver.
Então, por que temos tanto medo de viver? Se o peso do mundo já está em nossas costas, por que não dividi-lo com mais alguém, com amigos, amores, sentidos de vida... Atlas sofre, mas tem sentido pelo qual sofrer; o peso de sua existência é o peso que seus ombros podem aguentar.
6 comentários:
Como primeiro a comentar, devo dizer...
Legal!
:p
Tá, agora é pra valer, vai.
A vida não é um problema a ser resolvido, mas um mistério a ser desvendado. (Clichê no qual acredito.) Seguindo essa mesma lógica, o mundo não é um peso a ser carregado.... mas um milagre a ser compartilhado.
Meu maior desejo é que o mundo aprenda a não carregar - suportar o mundo. Que a gente possa aprender a vivenciar o mundo não como o peso do Atlas, que resolveu carregar o peso de outro, para passar para outro, depois, e depois..... mas sim como aquela maçã que o Hércules saiu experimentando, enquanto rodava, ele sim, o mundo.
"A futilidade nos protege", Cazuza. Olhar a vida com descompromisso é usar de cinismo para com o viver, porque, na verdade, ele é uma coisa para lá de pesada. A consciência nos desperta para o lado sombrio e denso e pesado da vida. Fingir-se fútil, ajuda, mas a gente sabe que não resolve. É puro jogo de cena. Então, neste caso, eu opto pelo deboche. Assim, dá pra ser sério e descompromissado ao mesmo tempo. Toda piada guarda uma crítica em segundo plano e um olhar leviano no primeiro.
Adorei você falando em dicotomias e literatura antiga. Antes você dizia que odiava literatura e semiótica, mas no fundo você tem jeito. Se cuida!
Thi, o que está acontecendo com meu colega de "amarguice"?? Será que você migrou para o lado claro da Força??? Se sim, good for you! Too bad for me... rsrsrs.
Falando sério, concordo com seu texto - em parte. Concordo que viver a vida como uma borboleta que voa de galho em galho e nunca se fixa em nenhum ou em nada não faz sentido... mas discordo que o peso da vida seja o que os ombros podem aguentar. Os milhares de suicídios anuais que o digam.
Bijocas e continue nos deleitando e provocando!
O peso, a leveza e o descanso são estados permanentes em nosso cotidiano. Um cotidiano mutável, incerto, surpreendente e, também, desgostoso.
Queremos suavizar o peso? Reconstruamos nosso viver!
Abração Thi.
Se o peso pesa tanto quanto pesa o peso do pesar, pese o peso do pesar sem o peso do peso.
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