quarta-feira, junho 10

Soltando as amarras…

Só se sabe o que escrever, escrevendo; só se sabe viajar, viajando...

Passado algum tempo sem escrever, talvez por não ter nada digno a ser dito, estou cá esperando o engarrafamento da Berrini - da qual tenho uma vista privilegiada, uns acreditam - e da Nações Unidas diminuir para voltar para casa, numa quarta-feira pré-feriado. Resolvi sentar e escrever sobre qualquer coisa, e é engraçado como as palavras vêm, e como as contradições contribuem para a idéia. Maior engarrafamento do ano, diz o UOL, e eu aqui planejando minhas férias, em outubro - viajar e estagnar. Desejo de mudar e a realidade que permanece.

Decidi que minha próxima viagem será para a Europa, 20 dias de liberdade da rotina do trabalho, do cotidiano caótico de São Paulo, flanando pelo Velho Mundo... sim, quero ser um flâneur, como dizem os franceses - vagar, sem rumo, experienciando os lugares, pensando na vida, sem compromisso outro que não esse.


Acho que pensar uma viagem talvez seja a parte mais divertida, pois traz expectativas que podem ou não se concretizar – sobre isso Alain de Botton fala em A Arte de Viajar –, porque tudo o que fica no ideal nos é aprazível e seguro. Mas o propósito de uma viagem vai além: segundo Botton, viajar nos faz perceber nosso lugar no mundo, nossa insignificância quando comparados com tudo o que existe de grandioso. Viagens nos permitem tempo para refletir sobre quem somos, quem gostaríamos de ser e como nos relacionamos com o mundo. Viajar parece ser intrinsecamente relacionado com mudar. Para Descartes, viajar é quase como conversar com o que existiu no passado.


Voltando a minha vista privilegiada aqui no escritório: passo o dia todo olhando para a Hípica, o vai-e-vem da Berrini, e os aviões – inúmeros – levantando vôo e pousando no aeroporto de Congonhas. Ver todos esses aviões me faz criar histórias sobre o destino de seus passageiros e provoca mais e mais a vontade de soltar as amarras e navegar o mundo. Mas por que será que temos essa gana de viajar? Navegamos o mundo em busca de algo, mas retornamos para casa para encontrá-lo… e, na verdade, retornamos com a nossa experiência, que será reinterpretada e ressignificada cada vez que lembramos da aventura. Em busca disso, planejo fazer um diário da minha viagem, registrando as impressões sobre a comida, arquitetura, as pessoas, absolutamente tudo que eu conseguir, para mais tarde, de volta ao lar, relê-las – dias, semanas, meses depois – e verificar o que mudou em mim.


Talvez meu desejo em viajar seja, de fato, relacionado à descoberto, à liberdade e ao acaso. Venho aprendendo a me deixar levar pelas coisas – e, isso é muito bom, de verdade!
O acaso me prega belas peças. Caso recente foi com meu laptop: pensei em fazer backup e formatá-lo semana passada, mas as coisas aconteceram sem que eu planejasse, e o dito cujo se autoformatou… para meu alívio, eu diria, pois estava protelando o desgaste de separar todos os arquivos dos últimos 5 anos que havia no HD. O que não se quer remediar, remediado está. Me desapeguei da idéia de ter perdido minhas memórias desses anos, pois elas estão todas guardadas e devidamente vívidas em mim.


Imaginar e escrever é meu modo de escapar, especialmente enquanto o trânsito não flui; especialmente enquanto chove lá fora e São Paulo parece desaparecer, dissolvida na água da chuva.


Um comentário:

Anônimo disse...

"It's very nice to go traveling,
But it's so much nicer
To come home"

Boa viagem!