
Vi o filme. Acho que o que agrada nele é a fácil identificação com situações que já vivemos, principalmente a questão dos relacionamentos findos, e o medo de assumir novos, ou então investir na imagem da pessoa amada perdida, e sofrer, acreditando que isso nos torna mais nobres, de algum modo.
Certo está Jeremy (Jude Law) - podemos dizer -, que guarda a sete chaves as histórias e angústias, que é capaz de deixar seu grande amor ir e permanecer no mesmo lugar, esperando... até o momento em que decide roubar um beijo, que sequer é sabido pela beijada - qual o sentido disso?
Acho que se eu me atrever um pouco, posso extrapolar a idéia e dizer que é um filme dentro de um filme. As fitas que Jeremy grava, e depois assiste como se fossem ficção, para mim, indicam a postura que ele toma, e que todos no filme, de certo modo, tomam. Ninguém participa de nada, a vida acontece, e só.
Elizabeth (Norah Jones) assiste seu ex-amado com outra, pela janela do quarto, e assiste, sem se envolver, as pessoas ao seu redor; Jeremy assiste as fitas, e assiste todos que passam por sua vida - não tem coragem de ir atrás do amor, fica estagnado, esperando - chega a ser irritante!
Arnie (o policial alcoólatra) bebe a vida em uma garrafa - idiota! -, enquanto sua ex-mulher assiste, de camarote e com decote provocativo, sua morte, lentamente. Leslie (Natalie Portman), com sua arrogância loira, vê a vida de seu pai se esvair, e tem raiva, descabida, mimada.

O filme todo parece um sonho, talvez daí o título, My Blueberry Nights: a noite azul, a noite melancólica, do narcisismo que nos paralisa. Eu, que não tinha gostado/entendido o porquê das cenas lentas despropositadas, agora talvez entenda: não é tudo um sonho? ou um pesadelo? a vida... nem vou comentar sobre ninguém pedir torta de blueberry, senão vou ficar bravo :OP