domingo, maio 18

O que O Estrangeiro tem a ver com Arquitetura?

Finalmente, após meses, consegui terminar a leitura d'O Estrangeiro, do Camus. Esperava mais do livro. Não que seja ruim, pelo contrário, a idéia toda é ótima, mas a narrativa, seca demais, acaba minando aquela vontade de virar a página, para ver o que acontece em seguida.
O livro fala, em linhas gerais, do estranhamento, de sentir-se um estrangeiro no mundo, ... enfim, não encontrei inspiração para continuar este texto, então, vou falar de outro livro, muito interessante, que li no fim do ano passado: A Arquitetura da Felicidade, do filósofo suíço Alain de Botton.
Nele, Botton discorre sobre a influência da arquitetura em nossas vidas, bem como a noção do que é um edifício bonito. Afirma que a beleza das construções e dos objetos ao nosso redor possui a incrível habilidade de influenciar se somos felizes ou infelizes, e que a noção de beleza depende do que nos falta ou daquilo a que almejamos.
Faz sentido. Para ele, a periferia de Paris é um exemplo de arquitetura impedindo que os moradores desenvolvam suas faculdade plenamente: o projeto estéril, com linhas retas e modernas, não permitiria a criação de vínculos que recuperem o sentimento de afetividade proporcionado pela cidade natal dos moradores, subjugando-os, então, ao ambiente menos orgânico e artificial.
Analisando as construções pelo mundo, o autor percebe uma relação aparente entre como a população de um dado país se percebe/deseja ser percebido ou o que almejar ser e o estilo arquitetônico adotado.
Pessoalmente eu gosto de prédios com características orgânicas, com movimento, e ao mesmo tempo me encanto pelos que exibem linhas retas e exatas, concreto aparente com vidro. Olhando pelo prisma de Botton, talvez isso indique eu eu busco ordem e ao mesmo tempo uma saída de emergência dessa ordem em alguns momentos. A arquitetura contemporânea parece ilustrar bem o que me atrai, como a construção finlandesa acima: simples e sofisticada.
Olhando para São Paulo, notamos a falta de construções que podem ser objeto de contemplação. Vemos somente um monte de concreto em cima de concreto, mas nada digno de ser olhado com olhos de descoberta. Nos sentimos deslocados, estranhos, sem rumo e sem um lar. Apenas moramos aqui, não temos um lar, porque nos foi negado o vínculo. Bem, talvez eu tenha encontrado o que O Estrangeiro tem a ver com a Arquitetura..., do Botton, somos estrangeiros sem lar em São Paulo. É o que parece... é o que fica...

4 comentários:

Cris disse...

Hum, interessante a teoria. E realmente faz sentido. Será que enfim conseguimos uma boa defesa para as obras arquitetônicas do Niemeyer, como, por exemplo, para o criticado MAC de Nitetói?

Se não estou enganada, segundo a psicologia, o interior de nossa casa espelha nosso interior na verdade.

Isso me lembra que preciso arrumar meu quarto, que está uma bagunça só! Será que um dia eu consigo?

Boas escolhas de assunto! Parabéns!

Cris disse...

Mais uma coisa: posso colocar um link para seu blog nos meus?

Dulce Spinelli disse...

Thi, nunca tinha pensado (incrivelmente!!) nessa questão da relação entre a arquitetura de uma cidade e as características dos seres que a habitam... concordo totalmente com o que Botton diz. Quanto ao que você diz sobre SP e o paulistano, essa estranheza nossa acho que é plausível, já que na verdade não há uma arquitetura em nossa cidade, né. Agora, com relação a nos ter sido negado um vínculo, não sei se concordo: acho que o que acontece, provavelmente, é que acabamos nos moldando a essa aparente confusão, a essa falta de uma unidade, e isso se reflete no modo como nos sentimos. Mas não há dúvida de que somos parte da cidade, e de que esta é, sim, nosso lar. Infelizmente, é um lar no qual não nos sentimos acolhidos, e sim agredidos. E isso, sim, é triste.

Anônimo disse...

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