domingo, maio 11

O que acreditamos

Navegando na Internet, encontrei este quadrinho interessante sobre o processo de criação de significado. Acredito que nossa interação com o mundo, em boa parte, se dê por meio da linguagem, mais especificamente pela função nomeadora com a qual nos equipa. Nomeando damos vida às "coisas" que, de outro modo, permaneceriam no limbo dos nossos pensamentos.
Dulce, uma grande amiga e escritora-em-formação - exímia tradutora, vale ressaltar -, vive às voltas com problemas tradutórios (cf. O Inferno de Dulce), além de já ter expressado a dificuldade de se botar no papel o pensamento mais simples, às vezes.
Como mostrado no quadrinho, o enunciador 1 tem uma imagem completa do cachorro, e o enunciador 2 precisa que este lhe dê mais dados para compreendê-la. No entanto, o que se desenvolve é que o enunciador 1, apesar de ter sempre o mesmo cão em mente, atribui valores diversos cada vez que vai falar dele. A imagem mental que o enunciador 2 tem, por sua vez, muda a cada nova informação, e ele, no final do diálogo, chega à imagem de um cão diferente, restando ao enunciador 1 indagar-se por que é que ninguém o entende.
Eu poderia ensaiar diversas explicações porque isso acontece, mas quero me ater a um aspecto: talvez seja exatamente essa habilidade de descrever imagens de modo simples e ao mesmo tempo completo que distingue um escritor interessante do mais enfadonho. Então, a facilidade com que o texto nos aprisiona estaria ligada diretamente à fidelidade da imagem que está no limbo das idéias, que o escritor, com a maestria que o ofício lhe proporciona, põe no papel, para deleite do leitor.
É isso...


Imagem: http://www.webbschool.com/rhood/english2/toolbox_2005_06.htm

4 comentários:

Vanessa disse...

Fomos feitos de varias formas diferente, e crescemos em diferentes ritmos e formas de ver a vida.... talvez seja essa diferença que tanto nos afasta mas mais ainda nos aproxime....
Talvez seja essa umas das explicações pra tantas formas de crenças e visões....

Cris disse...

Oi THMBdoN, tudo bem?

Muio interessante o post!

Acho que mais do que descrever imagens de modo simples e completo, um bom escritor estimula no outro a criação de imagens próprias que preservem o que se pretende ser contado/mensagem, independentemente da criatividade ou habilidade de interpretação do interlocutor. Afinal, acredito que cada um "empresta" suas próprias "cores" ao que lê, vê, percebe, sente.

Fora que às vezes o outro só quer mesmo saber é se temos ou não um animal de estimação. No máximo de que tipo. Então para quer dar mais detalhes? :-)

Dulce Spinelli disse...

Hello fellow lunatic!!

Poxa, estou sinceramente tocada e honrada por ter inspirado sua primeira postagem, que, como tudo o que você faz, é brilhante!!
Como não poderia deixar de ser, me faltam as palavras para comentar de modo inteligente o que você expôs tão claramente em seu post. Mas, em relação à questão do pensamento X linguagem, queria te indicar um site muito interessante de uma acadêmica autista, da qual vc já deve ter ouvido falar, Temple Grandin. No site dela tem um trecho da sua autobiografia em que ela diz que sempre pensou por imagesns, e que por isso tem grande dificuldade de entender conceitos abstratos e, conseqüentemente, grandes problemas de compreender os outros seres humanos, tanto que ela própria se auto-intitula "uma antropologista em Marte" (título, aliás, do livro do neurologista Oliver Sacks no qual ele tem um capítulo dedicado a ela. Vale a pena dar uma olhada!
Muitos beijos e PARABÉNS pelo texto brilhante. Keep it up!!
Sua amiga e grande admiradora

Narciso Silva Pinto disse...

Ótima introdução! Continue! Quero ler mais.
Abração