domingo, junho 8

E vale a pena?

Portuguese Sea - by Fernando Pessoa

Oh salt-laden sea, how much of your salt
are tears of Portugal!
So that we crossed you, how many mothers wept,
how many children vainly prayed!
How many brides still to marry
so that you would be ours, oh sea!

Was it worth it? Everything is worth it
when the soul is not skimpy.
Who wants to go beyond the Bojador
must surpass the pain.
God the sea perils and the abyss gave,
but in it He reflected the Heavens.

(Tradução minha)

Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

2 comentários:

Dulce Spinelli disse...

Lindo, Thi, mas cadê o original do Pessoa??? Como eu posso dar meu pitaco na tua tradução se não conheço a versão em português??? (E sendo preguiçosa demais para buscar o poema na internet, hahaha).
Coloca aí, vai!! Daí te digo o que achei da tua versão, ó poeta/tradutor!! Bijocas!

Cris disse...

Oi Thiago!

Nas minhas atuais "andanças marítimas", descobri que navio em inglês é "she", por ser comparado com uma "baleia". Legal né?

Mas o que tem a ver com seu post?

Ela, o navio, é a alma. Somente ela pode cruzar o mar e enfrentar o "terrível Cabo Bojador", cujas lendas de marinheiros diziam se tratar de um lugar com monstros terríveis, que faziam a água ferver e engoliam navios que sumiam em deixar vestígios, lembrando nossos medos internos que não nos permitem novas descobertas, dentro eles, o pior: o monstro do medo de saber quem se é, sem máscaras, de “cara limpa”!

Passar além da dor, para passar além do Cabo Bojador é suportar a dor de reconhecer que não se é quem realmente a gente pensa ser. Não somos a perfeição em pessoa, ninguém é. Não somos o que queríamos ser, muito menos o que o mundo quer que sejamos. Somos “apenas” nós! E isto é ótimo. Principalmente quando nos permitimos ultrapassar nosso “Bojador”.

Como diz uma amiga: “Quando você sabe quem é e o que quer, nada te abala!”

Não por acaso, óbvio, a lenda do Cabo Bojador (que lembra o “Triângulo das Bermudas”) foi quebrada mais ou menos na mesma época do desenvolvimento da mentalidade crítica do movimento renascentista, no qual deu-se mais movimento às expressões!

Belo poema que me fez pensar, principalmente porque tinha acabado de ler seu próximo post.

Muito bom!!!