sexta-feira, junho 20

Às aves que migram...

Quando criança, me indagava acerca das coisas do mundo, perguntas ingênuas, mas que mostravam a avidez por conhecer, saber, entender. Perguntas provavelmente comuns a todas as crianças: "será que na minha vida toda ganharei/gastarei R$ 1 milhão?", "por que o céu é azul?", "pra que estudar português?", etc. À época, pensava que os adultos, sim, é que eram felizes, imaginava que eles nunca se indagavam sobre essas coisas, ou coisa qualquer, pois deviam tudo saber.
Curiosamente, eu tinha fixação pela idade de 25 anos. Não sei explicar (eis uma pergunta que nunca me fiz, tampouco!). Imaginava essa ser a idade perfeita, para alguma coisa que não sabia. Poderia dizer aqui que algo fantástico aconteceu, alguma epifania, uma revelação depois de março de 2007, quando fiz 25 anos - sinto desapontá-los -, mas nada disso aconteceu... Acredito que somos uma pessoa diferente a cada dia, mas no fundo ainda sou aquela criança perguntadora, lá de fins da década de 80.

Vasculhando meus arquivos no computador, encontrei um poema do Bryant (cujo poema Thanatopsis, escrito aos 17 anos, é considerado uma obra-prima da literatura estadunidense), do qual gosto muito, e que tive o prazer de traduzir anos atrás e reproduzo abaixo (o original, em inglês, pode ser visto aqui).

Àquela que migra
de William Cullen Bryant

Para onde, em meio ao orvalho,
Enquanto reluzem os céus com os últimos raios de dia,
Longe, através da tonalidade rósea, tu segues
Teu caminho solitário?

Em vão os olhos do caçador
Poderiam mirar teu vôo distante para fazer-te mal,
Enquanto, sombriamente vista contra o enrubescido céu,
Tua figura parece vagar.

Procurastes a margem pantanosa
Do delgado lago, ou a do amplo rio,
Ou onde as ondas agitadas sobem e descem
Na puída orla do mar?

Há uma Força cujo esmero
Ensina teu caminho ao longo da costa sem trilhas –
O deserto e infinito ar –
Solitário errante, mas não perdido

O dia todo tuas asas bateram,
Nas alturas, na fria e tênue atmosfera,
Mesmo não pousando, exausta, na terra que a receberá
Embora a noite escura esteja perto.

E logo a labuta terminará;
Logo tu encontrarás um pouso estival, e repousará,
E soltará a voz entre tua parelha; o junco deverá curvar-se,
Logo, sobre teu ninho protegido.

Tu terás ido, o abismo impenetrável
Terá absorvido tua forma; ainda assim, em meu coração,
Profundamente terá sido fincada tua lição,
Que não deve tão cedo partir.

Ele que, de lugar a lugar,
Guia através do ilimitado céu teu vôo certeiro,
Pelo longo caminho que devo trilhar sozinho,
Há de guiar meus passos sem erro.


Bryant fala basicamente da vida e de como percorremos os caminhos que nos levam, inexoravelmente, a um fim. Não um fim qualquer, mas um fim que nos permite transcender, pois nossa lição fica. E como alcançar esse objetivo final (que também acaba sendo o projeto existencialista), sempre haverá obstáculos (um caçador) à frente... Nessa linha, pego-me constantemente pensando em duas forças: a moral e a ética. São duas coisas diferentes: a moral lida com a igualdade das minhas relações em relação às outras pessoas (não fazer a outrem aquilo que não quer que façam a você). Já a ética diz que eu devo ser responsável comigo mesmo, além de fiel aos meus desejos. Para mim, são duas forças conflitantes, uma impulsionando em direção à realização dos meus desejos e outra os refreando.

Não é fácil ser criança, nem adulto. Talvez a grande transformação dos 25 anos seja exatamente essa: estar nel mezzo del camin di nostra vita (no meio do caminho de nossa vida), como Dante colocou, seguido por Olavo Bilac:

(...) Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

(...)

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.


A sensação é bem essa retratada pelo poema do Bilac; parece que os 25 anos marcaram o estar no meio do caminho entre o ontem e o amanhã, sem ser o hoje...

4 comentários:

Cris disse...

"Será que na minha vida toda ganharei/gastarei R$ 1 milhão?"
Hum... não acho que esta seja uma pergunta comum a todas as crianças, pelo menos não às crianças pré-"show do milhão" e pré-"Big Brother". Pelo menos, desde que me lembre, quando era criança, milhão para mim era aquele milho cozido que eu não aguentava comer inteiro na volta da praia. :-)

Mas confesso, tive perguntas infinitamente infantis, como: "Mãe, será que o Micha chega aqui?" - referindo-me à réplica do ursinho mascote das Olimpíadas de Moscou, feita em balão de gás, solto nos festejos de encerramento dos jogos. Ainda fiz pior, não ficando satisfeita com a resposta, ainda fui na janela ficar olhando e esperando, pois pensei: "Quem sabe ele não chega?" rsrsrsrsrs

Acho que hoje tenho muito pouco daquela menina que olhava o céu à espera de coisas impossíveis, apesar de ainda estar continuamente em busca de repostas. Acho que sou um pouco menos boba e bastante mais atirada. Hoje, provavelmente, não esperaria pelo Micha na janela, subiria o Pão-de-açúcar para ver se o avistava.;-)

Mas o amadurecimento, ou melhor a mudança de 'uma criança' para 'outra criança', também não veio numa data mágica. Veio em parte pela educação científica da matemática e em parte pelas experiências profundas com os seres, ditos humanos, que ficavam à espreita dos vôos "daquelas que migram", para alvejá-las.

Mas ainda me resta uma pergunta: por que aquelas que migram preferem sempre a margem pantanosa?

Mas não responda ainda!

É fim de semana, chega de pensar demais! É hora de relaxar um pouquinho!

Beijos e bom fim de semana!

Anônimo disse...

Oie!
Não vim comentar!!
Vim exigir a minha merecida dedicatória nesse blog!! :op
Pode usar a imaginação, escreva sobre tudo o que eu te inspiro, mas pode resumir, senão vai congestionar os servidores do Blogspot....

HUAHUAHUAHUAHUAHUA

To brincando querido, passei só pra deixar um 'OI'!
Estou adorando os textos, pena que não entendo metade... :op

Beijos

Dulce Spinelli disse...

De onde você tirou essa definição de ética???? Me pareceu um tanto diferente do sentido que damos comumente, não?? Porque, se esse sentido é o verdadeiro, então se temos o desejo sincero de matar alguém, essa atitude seria ética????!!!
E dá-lhe sincronicidade!!!! Você acredita que NA AULA PASSADA meu professor nos fez analisar JUSTAMENTE esse poema do Bilac????
Sem comentários...

Anônimo disse...

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